segunda-feira, 22 de outubro de 2007

ANISTIA: O DOCUMENTO DE BRASÍLIA

sábado, 20 de outubro de 2007

Não foi só Lamarca - Sebastião Nery

"O Forte de Copacabana estava sob o comando do capitão Euclides Hermes da Fonseca. Lá então preparou-se a revolta desde a madrugada de 3 de julho de 1922. Reuniram-se ali cerca de 300 rebeldes.

O general Bonifácio da Costa, emissário de Pandiá Calógeras, ministro da Guerra, deu voz de prisão ao capitão Euclides Hermes. Nesse exato momento, entrou o tenente Siqueira Campos, já no papel de líder da revolta: - Somos revolucionários e recusamos as ordens do governo. Portanto, general Bonifácio, o senhor é quem está preso. A uma companhia do 3º Regimento de Infantaria, mandou dizer:

- Retirem-se ou serão aniquilados!

O primeiro canhão disparou. No ardor da revolta, os sediciosos esperavam acertar um petardo no prédio onde estaria o ministro da Guerra. No meio do caminho, várias casas foram atingidas. Alguns civis morreram".

18 do Forte

"O tenente Eduardo Gomes manobrava um canhão, disparando-o ininterruptamente. Na Escola Militar de Realengo, os oficiais instrutores Juarez Távora, Cordeiro de Farias, Odylo Denis, Canrobert Pereira da Costa, Falconiere da Cunha e outros, com mais 400 cadetes, conseguiram retirar da fábrica de cartuxos grande quantidade de munição e marcharam para a Vila Militar e dali rumar para o Palácio do Catete, para derrubar Epitácio Pessoa.

Enquanto isso, no Forte de Copacabana, a luta prosseguia. A situação tornou-se desesperadora: - Preparem-se para morrer, gritou Siqueira Campos aos companheiros. Novo telefonema do ministro da Guerra levou um ultimato aos rebeldes. Se não se rendessem, seriam arrasados. O capitão Euclides Hermes respondeu que, nesse caso, revidariam com toneladas de explosivos, fazendo chover fogo sobre a cidade. Liberaram Hermes para sair e parlamentar. Combinaram que, se ele fosse preso, bombardeariam a cidade".

Juracy

"Mesmo em desvantagem, os revoltosos bateram-se com sobrenatural fervor e conseguiram liquidar cerca de 30 soldados do governo. Um sargento avançou sobre Siqueira Campos e, numa traiçoeira carga de baioneta, perfurou-lhe o abdome. Siqueira, mesmo ferido, conseguiu puxar o gatilho de sua parabellum e disparou sua última bala na cara do sargento. Em poças de sangue na areia da praia, jaziam os corpos dos jovens massacrados". (Memórias de Juracy Magalhães, "O último tenente", a J.A Gueiros.)

Prestes e Agildo

A história das Forças Armadas, no Brasil, nunca foi uma procissão, uma parada de 7 de Setembro. É uma fieira de levantes, rebeliões e lutas.

Em 24, Prestes se rebelou no Rio Grande e sua Coluna andou 25 mil quilômetros, atravessou 13 estados, até 27, lutando "para depor Bernardes". Em 30, na Paraíba (Juracy conta), "Agildo Barata, numa ação fulminante, distribuiu os oficiais e soldados já aliciados na conspiração, fazendo prender todos os que esboçavam resistência.

Era de uma coragem pessoal extraordinária. A luta foi encarniçada. Dei tiros, certamente abati alguns adversários, mas ali estávamos numa guerra, a opção era matar ou morrer. O general Lavanere Wanderley tentou uma reação, Agildo gritou: - Abram as portas ou jogarei uma granada! E Agildo fez fogo contra ele".

Veloso

Por não aceitarem a vitória e a posse de Juscelino, em fevereiro de 56, o major Haroldo Veloso e outros oficiais da Aeronáutica "apoderaram-se de um avião bimotor Beechcraft no parque dos Afonsos, no Rio, repleto de armas, explosivos e bombas, com destino a Cachimbo e Jacareacanga, comandando trabalhadores civis, armando índios e seringueiros" (DHBB da FGV).

Em dezembro de 59, o mesmo Veloso, com João Paulo Burnier e outros também da FAB, apoderou-se de um avião de linha comercial em pleno vôo e obrigou a tripulação a levar o aparelho a Aragarças, Goiás" (DHBB-FGV). E o Brasil inaugurava mundialmente o seqüestro de aviões comerciais.

Cordeiro

Em suas memórias ("Meio século de combate", Ed. Nova Fronteira), gravadas por Aspasia Camargo e Walder de Goes, Cordeiro de Farias contou: "Em fevereiro de 56 fui procurado no palácio de Pernambuco (era o governador) por cerca de 12 oficiais da Aeronáutica. Avisaram-me que pretendiam repetir o levante de Jacareacanga. A idéia era praticar um ato de grande violência: explodir a usina de Paulo Afonso. Disse a eles: - Vocês estão completamente loucos. Bombardeiem qualquer coisa, mas Paulo Afonso, que é a redenção do Nordeste, isso vocês não vão fazer não".

Lamarca

Todos eles, os de 22, 24, 30, 56, 59 e tantos outros episódios, inclusive os torturadores e assassinos de 64, foram unanimemente anistiados, voltaram às Forças Armadas e terminaram como generais, almirantes, brigadeiros. A nenhum deles foram negadas as patentes e as pensões para suas famílias.

Agora, tenta-se impedir que a viúva do ex-capitão Lamarca receba sua pensão. Alegam que ele "desertou, saiu do quartel com armas e matou um". Tudo que Lamarca fez os outros todos também fizeram. A história está aí.